quarta-feira, 28 de abril de 2010

"Este Circo, sim!"

Caros amigos,

Retomando a actividade normal do blog, aqui fica um artigo de opinião bastante interessante, á cerca da Portaria que proíbe certos animais nos Circos Portugueses. É um artigo do Diário de Noticias, que descreve bastantes verdades em relação à dita portaria, e ao nosso País.

Convido-vos a ler e a dar a vossa opinião.

"Este circo, sim!"
por Maria José Nogueira Pinto

"O excesso de zelo do Governo, quase sempre aplicado ao que menos nos devia preocupar, atacou desta vez os animais dos circos. Os argumentos da conservação das espécies, do bem-estar e saúde desses exemplares e da segurança e bem-estar dos cidadãos manifestam um total desconhecimento da realidade. Afastado o último argumento por quem tem autoridade para falar em risco para a saúde pública, ficam os outros. Mas não carece ser-se uma luminária para concluir que não são os circos que ameaçam a conservação das espécies e que estes animais, se outras razões não houvesse, ao representarem avultados investimentos e um poderoso factor competitivo, são, seguramente, bem tratados.
Quando os governos aprovam este tipo de medidas sabemos que estamos perante uma manifestação de impotência. Uma impotência relativamente àquilo que realmente interessa, ao que marca positiva ou negativamente o nosso nível civilizacional. Uma impotência mascarada pela prepotência consentida em nome de um folclore de correcção política, que pouco ou nada tem feito pelas pessoas. E tão pouco pelos animais.
Ninguém me tirou as palavras da boca com maior rapidez e rigor do que Victor Hugo Cardinali ao afirmar, rodeado de impressionantes trombas elefantinas qual Aníbal, o Cartaginês: "Os meus animais são mais bem tratados que os pobres deste país." Sei bem que assim é porque conheço o circo e os pobres.
Os circos foram sempre um bem cultural. Nos tempos (ainda tão próximos) em que não havia uma ou várias televisões em cada casa nem as maravilhas da Internet, o circo em permanente itinerância chegava a todo o lado, realizando sonhos e povoando imaginários, marcando com o sinal da festa as infâncias menos mimadas, exibindo ao olhar redondo de espanto de milhares de crianças os truques e as habilidades vestidas de cetins e pailletes, sob as luzes do sonho e da fantasia, e conseguia o impossível ao trazer para uma emocionante proximidade o exotismo de animais nunca antes vistos.
Os chicotes estalavam, é certo, mas nunca nos lombos dos bichos e a eles não era pedido mais, em emoção e em risco, do que à trapezista nos seus voos ou aos palhaços na sua incumbência de fazer rir.
Confinados à grande tenda, às caravanas e às jaulas, mas com todas as estradas para percorrer, o circo é feito de artistas, e filhos de artistas que nascem artistas, e animais que se tornam artistas, uma grande família em demanda de público, com uma disciplina e organização muito próprias assentes em cumplicidades e sentimentos forjados num trabalho de risco e incerteza. Incluindo os animais. Nem uns nem outros são, ou foram, uma ameaça, para nada nem ninguém.
Mas em Portugal 23% das crianças encontram-se em risco de pobreza. Um número hipocritamente incerto de crianças e jovens vivem institucionalizados. Estudos recentes apontam, em alguns concelhos suburbanos, para o crescimento do número de menores que não comem como deviam e que não acedem a cuidados de saúde necessários. A que acrescem os idosos, também eles em risco de pobreza, os quase dois milhões de pobres irrecuperáveis, a nova pobreza a atingir já seiscentos mil desempregados e outros tantos agregados familiares, vítimas de uma pobreza envergonhada a que o Governo não consegue dar resposta.
Enquanto os circos, nas últimas décadas, se modernizaram e desenvolveram, o combate à pobreza e exclusão em Portugal teve fracos resultados e numerosos programas oficiais demonstraram a sua ineficácia. O que me leva a concluir que o nosso circo político privativo é bem mais problemático e preocupante que a actividade artística circense."
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/Interior.aspx?content_id=1397622&seccao=Maria%20Jos%E9%20Nogueira%20Pinto&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

Espero que tenham gostado.

Cumprimentos,

Gonçalo Teixeira Diniz

3 comentários:

  1. São estes trabalhos jornalisticos e blogues como este que ajudarão a clarificar a sociedade, quanto a este tema.
    Bom seria que a sociedade em geral e em particular os que gostam do circo se unissem para conhecer o circo e defendê-lo publicamente, ajudando a combater a ate alterar a legislação, que foi feita sem a devida investigação.
    Felicito os criadores e responsaveis deste blogue. Uma felicitação especial para o Gonçalo pelos trabalhos publicados no YouTube.
    Paulo Marques

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  2. Óptimo artigo... Pode ser que abra certas mentalidades obtusas que andam por esse Portugal fora...

    Parabens e continuação de bom trabalho! :)

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